sexta-feira, 12 de agosto de 2011

NOTURNO

Uma noite,
Uma noite toda cheia de murmúrios, de perfumes e da música das asas;
Uma noite,
Em que ardiam na nupcial e úmida sombra das campinas as lucíolas fantásticas,
A meu lado lentamente, contra mim cingida toda, musa e pálida,
Como se um pressentimento e de amarguras infinitas,
Até o fim do mundo mais recôndido das fibras te agitasse,
Pela senda que se perde no horizonte da planície
Caminhavas,
E nos céus
Azulados e profundos esparzia a lua cheia sua claridade branca.
Tua sombra,
Fina e lânguida,
E a minha,
Projetadas pelos raios do luar na areia triste
Do caminho se juntavam
E eram uma,
E eram uma,
E eram uma sombra única,
Uma sombra única,
Uma sombra única...

Esta noite
Eu só, a alma
Cheia assim das infinitas amarguras e aflições de tua morte,
Separado de ti mesma pelo tempo, pelo túmulo e a distância,
Pela escuridão sem termo
Aonde nossa voz não chega,
Silencioso
Pela senda caminhava...
E escutavam-se os ladridos dos cachorros para a lua,
Lua pálida,
E a coaxada
Dos batráquios...
Senti frio.O mesmo frio que coaram no meu corpo
Tuas faces e teus seios e teus dedos adorados
Entre as cândidas brancuras
Das cobertas mortuárias.
Era o frio do sepulcro, sopro gélido da morte,
Era o frio atros do nada.
Minha sombra,
Projetadas pelos raios do luar na areia triste,
solitária,
solitária,
Pela estepe desolada caminhava.
Foi então que a tua sombra
Ágil e esbelta,
Fina e lânguida,
Como nessa extinta noite da passada primavera,
Noite cheia de murmúrios, de perfumes e da música das asas,
Arcercou-se e foi com ela,
Acercou-se e foi com ela.
Acercou-se e foi com ela...Oh, as sombras enlaçadas!
Oh, as somvras de dois corpos que se juntam ás das almas!
Oh, as sombras que se buscam pelas noites de tristesa e de lágrimas !




-José  Asunción Silva


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